sexta-feira, 17 de junho de 2011

Libertadores: o Brasil de costas para a América Latina

Na última quarta-feira, todo brasileiro apaixonado por futebol estava com os olhos voltados para Montevidéu. O motivo era a final da Libertadores da América entre Santos e Peñarol. Se você perguntar para qualquer torcedor de qualquer grande time de futebol no Brasil qual a competição mais importante do ano, todos vão dizer sem pestanejar: a Libertadores da América. Em alguns casos, a Libertadores é uma verdadeira obsessão.

No dia seguinte à peleja, toda imprensa esportiva deu especial destaque ao jogo. Por um instante, Brasil e América Latina se fundiram nas manchetes dos jornais. Fato raro, ainda que aparentemente isso não soe como um absurdo, afinal de contas o Brasil realmente está na América Latina. Mas se olharmos com mais atenção, veremos que o fato de ESTAR na América Latina, não quer dizer que o Brasil SE SINTA latino-americano. Maria Lígia Prado, uma importante historiadora brasileira, certa vez escreveu que “o Brasil é e, ao mesmo tempo, não é América Latina”. E ela tem razão!

A origem dessa distinção tem uma série de explicações e formulações históricas, sociológicas e antropológicas, mas que passam longe de um consenso. Há quem diga que ainda vigora o tradado de Tordesilhas entre nós. O fato é que não existe entre os brasileiros um sentimento de pertencimento à América Latina. Não nos vemos como latino-americanos e isso se revela em pequenos gestos e pensamentos reproduzidos em nosso dia a dia. Por exemplo, muito comumente, quando escolhemos um destino na hispano-américa para conhecer afirmamos: “vou viajar para a América Latina”. Da mesma forma que acho muita graça quando vejo bares que anunciam uma programação de cardápio e músicas toda latino-americana. Costumo rir sozinho e pensar: ”vão tocar samba e servir feijoada com caipirinha?”. Afinal samba também é um ritmo latino-americano.

Esta distinção também ocorre na cancha, no campo! É muito comum que jogadores argentinos, uruguaios, paraguaios e chilenos saiam para jogar em outros países hispano-americanos, como o México, Peru, Colômbia, entre outros, e por lá fiquem por vários anos. Ainda que recentemente exista uma legião maior de hispano-americanos jogando no Brasil, os motivos são muito mais econômicos, pela valorização de nossa moeda, do que culturais. Ao contrário, para muitos deles é muito difícil se adaptar em terras tupiniquins.

Da mesma forma, é verdade que existe um noticiário unificado sobre os times e ligas hispano-americanas divulgadas entre si. Há várias emissoras com programação esportiva – como ESPN, Fox Sport e FX - que são reproduzidas com o mesmo conteúdo em canais de TV a cabo para todos os países. Afinal, a língua não é um impeditivo para tanto. Por meio disso, peruanos, colombianos e equatorianos tem na ponta da língua o nome de jogadores argentinos, chilenos e mexicanos. Isso não quer dizer que não saibam da existência de nosso futebol. Não apenas sabem, como até mesmo acompanham. Mas a questão é: e o que conhecemos sobre eles?

A Libertadores da América é sempre um saco de surpresas. Não sabemos falar os nomes dos times, não conhecemos os jogadores, não entendemos como conseguem jogar na altitude, mas sempre partimos do pressuposto de que somos favoritos. Ou seja, ainda que nossas atenções para a “América Latina” sejam redobradas em época de libertadores, não existe um sentido de integração na participação dos brasileiros na competição, como tampouco existe um interesse para sabermos um pouco mais sobre nossos vizinhos. Ao contrário, objetivamos conquistar a América! Impor nossa diferença! Nós contra os Hermanos.

De costas para a América Latina, o Brasil volta-se a ela em época dos jogos da libertadores e se faz um pouco mais latino por participar de um evento como este. E o irônico disso tudo é pensar que: numa copa feita para homenagear os Libertadores da América, qual libertador é Brasileiro?

2 comentários:

  1. Belíssimo artigo, Sorrilha! Concordo que não tenhamos um sentimento de pertencimento em relação à América Latina, mesmo sabendo que somos parte dela... é estranho hehe!

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  2. Pois é netão... até acho que existam explicações plausíveis para esta realidade, mas não caberiam neste post... rsrs.
    Valeu pelo cometário.
    Abço.

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