terça-feira, 21 de junho de 2011

Uma situação*

No último post comentei a respeito do desinteresse do Brasil na América Latina. Ao finalizar aquele texto, lembrei-me de uma “situação” interessante que se passou no futebol peruano. Todos que conhecem minimamente a história do futebol brasileiro já ouviram falar do jogador Didi. Ídolo do Botafogo e Fluminense, Didi era muito conhecido por seu jeito de bater na bola que fazia com que ela mudasse sua trajetória de subida e caísse subitamente no chão. Era a chamada folha seca.

Didi também brilhou na seleção brasileira sendo campeão nos mundiais de 1958 e 1962. Para finalizar seu currículo, basta dizer que ele foi o ídolo de Pelé em sua adolescência. O que poucos sabem é que Didi também foi um grande ídolo no futebol peruano. Técnico daquela seleção na copa de 1970, o astro brasileiro levou o selecionado peruano ao mundial do México, eliminando a Argentina nas eliminatórias. Além disso, sua equipe ficou em sétimo lugar (a melhor colocação até hoje), sendo desclassificado pelo Brasil nas quartas de finais.

Por conta disso, não preciso nem mesmo dizer que Didi é reverenciado no Peru até os dias de hoje. Mas a sua simpatia também se fazia reconhecida naquela época por conta de seu jeito, digamos, “malaco”. Um legítimo representante do “jeitinho” brasileiro em terras andinas. Quando convidado para participar das mesas redondas, Didi, com um ar de malandro e esfregando uma mão na outra, negava a oferta dizendo: “não poderei ir, pois já tenho outra situação”.

Evidentemente que todos sabiam que esse era apenas um artifício para não mencionar sua presença certa em algumas festas badaladas. Uma verdadeira desculpa esfarrapada. Mas a verdade é que, esta frase se converteu rapidamente em um vocábulo popular no Peru e utilizado sempre quando alguém não podia dizer o verdadeiro motivo por recusar um convite. “Não posso ir, pois tenho uma situação” (situassao, como se pronuncia em castelhano).

O jogador/treinador enquanto um fenômeno midiático, fato que começava a tomar vulto naquela década com a expansão da TV, fez com que Didi se convertesse não apenas num ídolo do futebol peruano, mas num ícone popular e capaz de gerar um jargão compartilhado por vários setores daquela sociedade.

No Peru, até hoje os mais velhos recorrem a essa expressão em forma de brincadeira. Sorriem e dizem: “tenho uma situação”. Enquanto isso, os jogadores no Brasil não precisam mais dizer que uma situação os afastam das mesas redondas e, até mesmo, dos treinos e gramados. A situação está nas capas das revistas e nos sites de notícias.

*Agradeço ao amigo peruano Hugo Vallenas por essas informações.

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