quarta-feira, 15 de junho de 2011

Futebol entre linhas: libertadores 2011

Hoje ocorre o primeiro jogo das finais da Copa Libertadores da América 2011. A partida envolve dois times tradicionais do futebol sulamericano: Santos e Peñarol. Para ilustrar a importância desses clubes para o futebol de nosso continente, seguem duas pequenas crônicas escritas por Eduardo Galeano sobre os dois times e seus jogadores.

Vale ressaltar que Galeano, não é aquele, mas sim um importante escritor uruguaio (assim como o Peñarol) responsável por um dos livros mais vendidos da história da literatura latinoamericana, intitulado "As Veias Abertas da América Latina". Não é este post um espaço para críticas à esta obra. Quem sabe numa próxima. Agora mais vale ressaltar a importância de um autor do peso de Galeano em dedicar rastros de sua pena afiada para a análise do esporte.

Os textos encontram-se no livro, "El Fútbol a sol y sombra". A tradução dos textos é de nossa autoria.

Os anos do Peñarol

Em 1966, enfrentaram-se duas vezes os campeões da América e da Europa, Peñarol e Real Madrid. Sem suar a camisa, exibindo um toque e um jogo vistoso, Peñarol ganhou por 2 a 0 ambas partidas.

Na década de 60, Peñarol herdou o cetro do Real Madrid, que fora a grande equipe da década anterior. Por esses anos, Peñarol ganhou duas vezes a Copa mundial de clubes e foi três vezes campeão da América.

Quando a melhor esquadra do mundo partia para o campo, seus jogadores advertiam os rivais:

- Trouxeram outra bola pra jogar? Porque esta é somente nossa.

A bola tinha sua entrada proibida ao arco de Mazurkiewicz, no meio campo obedecia a Tito Gonçalves e mais a frente zumbia nos pés de Spencer e Joya. Sob as ordens de Pepe Sasía, rasgava a rede. Porém, ela se deliciava, especialmente, quando era embalada por Pedro Rocha.

O Gol de Pelé

Foi em 1969. O time do Santos jogava contra o Vasco da Gama no estádio do Maracanã.

Pelé atravessou o campo voando, esquivando de seus adversários em pleno ar, sem tocar ao solo, e quando já entrava no gol com bola e tudo, foi derrubado.

O árbitro apitou pênalti. Pelé não queria batê-lo, cem mil pessoas o obrigaram, gritando o seu nome.

Pelé já tinha feito muitos gols no Maracanã. Gols prodigiosos, como aquele de 1961, contra o Fluminense, quando driblou sete jogadores e o goleiro também. Porém este pênalti era diferente: as pessoas sentiram que havia algo de sagrado. E por isso se pôs em silêncio o povo mais barulhento do mundo. O clamor da multidão se calou prontamente, como se obedecesse uma ordem: ninguém falava, ninguém respirava, ninguém estava ali. Subitamente nas arquibancadas não havia mais ninguém, e muito menos no gramado. Pelé e o goleiro, Andrada, estavam sós. Sozinhos, esperavam. Pelé, parado junto a bola na marca branca de pênalti. Doze passos adiante, Andrada, encolhido, atocaiado, entre as traves.

O arqueiro chegou a resvalá-la, porém Pelé cravou a bola na rede. Era o seu gol número mil. Nenhum outro jogador havia feito mil gols na história do futebol profissional.

Então a multidão voltou a existir, e saltou como uma criança louca de alegria, iluminando a noite.

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