segunda-feira, 14 de junho de 2010

Copa: estereótipos e identidade


A Copa começou! “O país do futebol” já ensaia a sua paradinha oficial para os dias de jogos do Brasil. As universidades e os bancos divulgaram seus horários de funcionamento, ou melhor, de não funcionamento. Como escrevi no post anterior, tudo se justifica por conta dessa paixão nacional projetada que o brasileiro nutre pelo futebol.

A palavra é essa mesmo: projetada. Uma imagem sobre um tipo ideal de brasileiro que não existe, mas que a maioria se identifica. No entanto, tão interessante quanto a imagem que fazemos de nós mesmos é a imagem que os outros fazem sobre nós. Os chamados estereótipos nacionais. Quero dizer, uma idéia do que seria o cidadão comum de uma outra nacionalidade que logo nos vem a cabeça quando falamos de seu país.
Para deixar mais claro. Quando falo México, o que nos vem a mente é um homem do campo, com um bigode e um farto sombreiro. Quando menciono Alemanha, um sujeito de bermudas e suspensórios verdes, botas de alpinista e um chapéu com pena, nos vem a imaginação. E assim por diante. Não é difícil, por exemplo, que digamos que uma pessoa vestida dessa forma em uma festa de Oktoberfest seja um “alemão típico”.

Ocorre que não se trata de um alemão típico e nem mesmo o tipo ideal que os alemães fazem de si. São caricaturas de uma imagem distorcida de algum momento histórico do país que se enraizaram no imaginário coletivo. A forma de compreendermos isso é analisando o estereótipo nacional que fazem do brasileiro: o sambista e a mulata de samba. Não é assim que nos vemos, mas é assim que nos vêem. Exemplo claro disso foi a infeliz, mas bem humorada, declaração de Robin Willians sobre a escolha do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016.
Contra esses estereótipos lutamos diariamente. O dito mexicano típico representa um México rural e migrante do primeiro quarto do século 20 que não condiz mais com a sua cosmopolita Cidade do México dos dias atuais. O México é muito mais urbano que seu “típico mexicano” deixa transparecer. Quando relacionam o Brasil as mulatas, logo nos colocamos contra para mostrarmos que não somos apenas “bundas, sexo e samba”.

Mas o que isso tem a ver com futebol e Copa do Mundo? Quando vemos os jogos da Copa pela televisão, o que mais vemos são mexicanos de sombreiros, alemães de bermudas e suspensórios, japoneses de samurais e brasileiros com pandeiros rodeados de mulatas. São essas figuras que as câmeras internacionais procuram para demonstrar que a torcida de um determinado país realmente está no estádio.
Ou seja, de maneira muito interessante e controversa, durante a Copa do Mundo, nos travestimos desses estereótipos para que os outros nos identifiquem diante da multidão. Como uma forma de dizermos aos desavisados de onde somos e, por isso, recorremos a esses estereótipos que tanto negamos.
Ainda que estereótipos, fazem-nos identificar e nos diferenciar perante toda uma multidão mundializada. Ainda que neguemos, trazem traços com os quais, de uma forma ou de outra, nos sentimos aproximados. Por isso, os estereótipos não devem ser desprezados e, ao contrário do que podemos supor, nos dizem muito sobre as identidades. A Copa deixa isso muito claro!

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